O cotidiano diante da Guerra da Ucrânia
Morador local explica o que mudou desde o começo da guerra


O ucraniano Oskar Slushchenko. Foto: Arquivo pessoal
O ucraniano Oskar Slushchenko. Foto: Arquivo pessoal
No dia 24 de fevereiro de 2022, data que marcou o início dos ataques russos, Oskar Slushchenko, de 33 anos, abandonou sua casa em Kiev e partiu para a fronteira da Ucrânia com a Romênia. Quase dois anos depois, ele conseguiu voltar, porém as perspectivas da vida perante a guerra seguem nebulosas.
O ucraniano, que morou no Brasil por seis anos, conta que escolheu permanecer em seu país, mesmo diante do cenário atual: "Tomei a decisão de não emigrar porque a renovação da soberania nacional foi um sonho dos meus antepassados". Oskar deu aulas de russo no Rio de Janeiro até 2020, além disso, trabalhou no Bar Bukowski em Botafogo, na Zona Sul carioca.

De acordo com Oskar, a comunidade local tem um protocolo de como agir no caso de algum ataque. "A vida social e a agenda das instituições estão alinhadas à possibilidade de ataques a qualquer momento", diz ele. "Existe o apoio de voluntários, tanto ucranianos quanto estrangeiros, que ajudam a evacuar os civis dos territórios que estão sob bombardeios sistemáticos, aumentando o número de pessoas internamente deslocadas. Dessa forma, existem também os locais de acolhimento de migrantes internos."
Apesar dos ataques, o sistema de locomoção segue funcionando bem. Porém, por vezes, quando há bombardeios à infraestrutura elétrica, os trens podem demorar mais a chegar.

Mulher abraça seu gato dentro de estação de metrô usada como abrigo em Kiev. Foto: Dimitar Dilkoff
Mulher abraça seu gato dentro de estação de metrô usada como abrigo em Kiev. Foto: Dimitar Dilkoff
O especialista em Relações Internacionais trabalha, no momento, com arteterapia, mas chegou a ficar desempregado por quatro meses. "O desemprego geral piorou depois de 2022. A emigração de milhares de ucranianos, além de mortes e lesões, ocasionaram uma escassez de mão de obra no país. O governo, então, está debatendo a criação de um programa para estimular o retorno de ucranianos e a chegada de imigrantes", relata ele.
A partir do início da ofensiva russa, Oskar passou a tomar remédios para tratar a ansiedade. Dentro da arteterapia, ele chegou a trabalhar com soldados com problemas de sono e transtorno pós traumático. "Eu conversei ontem com uma senhora de idade que havia inicialmente deixado a Ucrânia. Ela retornou, porém passou a desenvolver questões psicológicas depois da onda de ataques à infraestrutura essencial no ano passado. Então, novamente, ela saiu do país", comenta.
O ucraniano discorre sobre como ele enxerga seu futuro: "Continuarei tentando me adaptar aos fatores externos, internos, aos impactos psicológicos e pessoais. As perspectivas são incertas, porque há previsão do final da invasão russa, nem do impacto existencial, econômico e político dela".

O conflito

O marco inicial da Guerra da Ucrânia se deu em 24 de fevereiro de 2022, quando a Rússia começou os ataques ao território do país, bombardeando, inclusive, a capital Kiev. Um dos grandes fatores que levaram ao conflito foi a possível entrada da Ucrânia na Otan, que significaria maior aproximação com o Ocidente e, consequentemente, a perda de influência da Rússia sobre a nação.