FUNK E EDUCAÇÃO: UMA BARREIRA ULTRAPASSADA

Escolas deixam preconceito e usam gênero musical em aulas de português, geografia e história.

Já imaginou o Funk como um instrumento de educação e empoderamento? Pode parecer uma surpresa, mas já é uma realidade. Em muitas escolas, públicas em sua grande maioria, o Funk é a possibilidade de inclusão, representatividade e claro, diversão. É mais que um estilo musical, é uma ferramenta de empoderamento social para muitos jovens, que geralmente são marginalizados. O ritmo incluso dentro da vida estudantil de muitos traz a chance de se pensar a partir das narrativas dos alunos, uma perspectiva periférica e antiracista.

“O Funk é muito diverso e plural. Vai pautar diversas temáticas de diversas formas”, é o que afirma Tamiris Coutinho, pesquisadora de Funk e Trap na Universidade Federal Fluminense (UFF) e autora do livro “Cai de Boca no Meu B*c3t@o”, que trata do empoderamento feminino através do Funk . O uso do estilo musical dentro de sala de aula é algo recente, sendo usado as letras para explicar regras de português, interpretação de textos simples ou complexos e até mesmo geografia e história.

Ludmylla Gonçalves, pesquisadora e educadora na rede pública do Rio de Janeiro, é um grande exemplo quando se fala do Funk na educação. A mesma é criadora do “Funk na Escola”, um curso que visa ensinar professores a como usar o gênero musical em suas aulas, das mais variadas disciplinas. “O Funk sempre fez parte da minha vida. Então de certa forma ele sempre esteve dentro da sala de aula também”, destaca a educadora em suas redes sociais. “Entendi que não basta usar o Funk na sala de aula, é também necessário defender a educação antiracista”, completa a professora afirmando a importância do seu trabalho.

Nos últimos anos, músicas do gênero têm conquistado um crescente número de ouvintes, impulsionado pelo amplo compartilhamento em plataformas de streaming, como é o caso do Spotify. Em 2016, uma pesquisa lançada pelo aplicativo mostrava que o Funk havia crescido em 51% desde 2014, fazendo sucesso em diversos países ao redor do mundo. Apesar da notável popularidade global, o Funk ainda é um gênero musical marginalizado, muitas vezes associado a estigmas sociais e culturais. No entanto, ao mesmo tempo, percebe-se o grande potencial do estilo musical como instrumento de combate aos preconceitos.

“Dentro da perspectiva do meu trabalho, eu parto de uma ótica do funk como canal e meio de empoderamento. Isso dentro de todos os grupos da juventude periférica”, afirma Tamiris.

Englobar jovens em atividades em que reconheçam suas vivências e narrativas é de extrema importância para concretizar uma genuína mudança dentro de grupos marginalizados. Essas atividades devem estar presentes desde de simples brincadeiras a questões dentro de sala.

A escritora ainda chama a atenção para uma importante conquista, a Lei 10.639/03 que completa 20 anos em 2023. A norma tornou obrigatório o ensino de história e cultura africana e afro-brasileira em escolas públicas e particulares, do ensino fundamental ao ensino médio. “Quando a gente vai falar disso é impossível não falar do Funk nesse sentido, que é um braço muito importante dentro da cultura negra brasileira”, afirma a pesquisadora. “Então isso dá um aporte maior aos professores poderem usar o Funk na sala de aula”, completa Tamiris. 


Professoras como Ludmylla e pesquisadoras como Tamiris têm surgido a cada dia, pessoas que estudam e ensinam através das suas histórias e narrativas. “Quando a gente vai falar de profissionais da educação, nada mais justo do que esses profissionais levem para a sala de aula, o que faz parte do dia-a-dia da vivência deles”, afirma Tamiris Coutinho.